O Sir Eric Clapton tem gasto o tempo fazendo parcerias com velhos amigos. Tocou e gravou, nos últimos tempos, com BB King, Stevie Winwood, JJ Cale e Wynton Marsalis, entre outros. Gravou disco em que atua muito mais como intérprete e transformador de canções (uma de suas grandes facetas) do que como compositor. Não é mais um artista que grava um disco e sai em turnê – do mais recente, “Clapton”, só uma foi tocada ontem. Em vez disso, faz do show seu quintal artístico, recriando canções sempre de forma surpreendente; mérito dele. Ontem, por exemplo, mandou uma versão eletroacústica de “Layla” que permanecia guardada na sua caixola, de uma lindeza só. Mas, ao mesmo tempo, por causa disso, desperdiçou um dos maiores riffs da história do rock. Ante às duas opções, não é possível responder qual é a melhor. Só Clapton sabe.
O palco do show é simples, mas os panos brancos que ganham cores ao serem iluminados lembram a decoração do fantástico Royal Albert Hall, em Londres, onde Clapton costuma fazer morada. No início do show, quem brilha é o tecladista Chris Stainton, o que seria uma constante durante a noite. Clapton só se manifesta com um solo daqueles de cair o queixo no bluesão “Hoochie Cochie Man”, de Willie Dixon. Não é de hoje que o guitarrista se apropria de temas originais e os transforma espetacularmente. Vejam o caso de “Cocaine” (JJ Cale) e de “Shot The Sheriff” (Bob Marley), que acabou suprimida para a entrada da suingada “Tearing Us Apart” – em cada show dessa turnê, Clapton decide se é uma ou outra.
Em “Old Love”, esquecida parceria com Robert Cray do álbum “Journeyman”, o guitarrista impinge uma intensa dramaticidade numa das passagens mais emocionantes da noite. O improviso inclui a contribuição do pianista (sim, são dois) Tim Carmon, que também se destacaria ao longo do set. Em “When Somebody Thinks You’re Wonderful”, que encerra o trecho acústico do show, Clapton se veste de cantor de cabaré, tocando dixieland como se viesse do passado numa máquina do tempo. Antes, já havia investido numa levada country na ótima “Lay Down Sally”, mas errou o deixar a bela “Wonderful Tonight” fora desse bloco. No trecho final, quebrou o que seria o grande crescente de encerramento.
Mas a coisa engrena pra valer na trinca final: “Little Queen Of Spades”, remanescente dos shows em que Clapton presta tributo ao mestre Robert Johnson, traz uma verdadeira jam session entre ele e os tecladistas, e aponta para uma irresistível virtuose do bem que arranca aplausos do público. O artifício é mantido em “Cocaine”, revestida em contornos próprios sem perder o impacto do riff original, um dos maiores da história do rock, para delírio do público. “Crossroads”, outra de Johnson, ganha uma versão cadenciada, curta até, para um bis solitário. Sim, podia ser melhor.
Em tempo: se você não foi ao show, corra atrasa do DVD “Eric Clapton & Stevie Winwood – Live From Madison Square Garden”, que ali, sim, não ficou faltando nada. Eric Clapton encerra a turnê brasileira nesta quarta, dia 12, no Estádio do Morumbi, em São Paulo.
Set list completo:
1- Key To The Highway
2- Going Down Slow
3- Hoochie Coochie Man
4- Old Love
5- Tearing Us Upart
6- Driftin’ Blues
7- Nobody Knows You When You’re Down And Out
8- Lay Down Sally
9- When Somebody Thinks You’re Wonderful
10- Layla
11- Badge
12- Wonderful Tonight
13- Before You Accuse Me
14- Little Queen Of Spades
15- Cocaine
Bis
16- Crossroads
2- Going Down Slow
3- Hoochie Coochie Man
4- Old Love
5- Tearing Us Upart
6- Driftin’ Blues
7- Nobody Knows You When You’re Down And Out
8- Lay Down Sally
9- When Somebody Thinks You’re Wonderful
10- Layla
11- Badge
12- Wonderful Tonight
13- Before You Accuse Me
14- Little Queen Of Spades
15- Cocaine
Bis
16- Crossroads